A fé cristã





FÉ é conectar-se com o mistério de Deus tocando em Jesus pela fé e acolhendo sua comunicação pelo Espírito Santo. 

No evangelho Jesus fala do dedo de Deus para dizer da força com que Ele Jesus operava milagres, o Espírito Santo.(cf. Lc 11,20). 

Digitar tem a ver com "digitus"do latim, que significa dedo. 
                                                                                                        Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues




CRER É GRAÇA
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues


São três as características fundamentais do crer em Deus: 
a) a fé é dom gratuito do Deus Trino; 
b) a fé é racional; 
c) a fé é um ato da liberdade. 


Nessa reflexão abordaremos a fé como entrega livre pela ação da graça de Deus. Na “Dei Verbum” - o documento do Concílio Vat. II sobre a revelação divina - a fé é descrita como resposta do ser humano à revelação de Deus.

Eis como nos é apresentada a revelação no referido documento: “Aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cfr. Ef. 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cfr. Ef. 2,18; 2 Ped. 1,4). Em virtude desta revelação, Deus invisível (cfr. Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cfr. Ex. 33, 11; Jo. 15,1415) e convive com eles (cfr. Bar. 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele”(n. 2).

E mais adiante nos fala sobre a fé: “A Deus que revela é devida a ‘obediência da fé’ (Rom. 16,26; cfr. Rom. 1,5; 2 Cor. 10, 5-6); pela fé, o homem entrega-se total e livremente a Deus oferecendo ‘a Deus revelador o obséquio pleno da inteligência e da vontade’ e prestando voluntário assentimento à Sua revelação. Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento, e dá ‘a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade’. Para que a compreensão da revelação seja sempre mais profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé mediante os seus dons”(n. 5).

A fé é, pois, uma entrega livre e total: “pela fé, o homem entrega-se total e livremente a Deus”. É que, encontrando a Verdade, o Sumo Bem, a infinita Beleza, o ser humano exclama: “era isso tudo que eu buscava” sem o saber. Esta entrega, entretanto, ela mesma é graça: “Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento, e dá ‘a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade’. Para que a compreensão da revelação seja sempre mais profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé mediante os seus dons” (n. 5).

Quem ler com atenção as Confissões de Agostinho haverá de constatar na narrativa de seu caminho para Deus a verdade desse ensinamento do Vat. II. É Deus quem converte, ou seja, quem suscita no pecador o desejo de crer, desde seu primeiro movimento, sustentando-o até sua “completação” pela rendição ao seu amor. No início de séc.V, um monge britânico, Pelágio ensinava que o ser humano tinha o poder, em sua liberdade, de aderir a Cristo, sem a necessidade da graça interior. Assim como o pecado de Adão foi apenas um mau exemplo, Cristo, seu contrário, deu o exemplo perfeito de fidelidade a Deus e ensinou o caminho. Em seu livre arbítrio o ser humano teria o poder natural de converter-se a Deus e perseverar no caminho.

As idéias de Pelágio foram fortemente refutadas por Agostinho numa série de tratados que se tornaram conhecidos como escritos antipelagianos. O Pelagianismo foi condenado oficialmente pela Igreja antiga nos concílios de Cartago (418 d.C.), de Éfeso (431 d.C.) e finalmente no Concílio de Orange II (529 d.C.). Um opúsculo conhecido como “Indiculus de gratia Dei”, pequeno catálogo sobre a graça de Deus, do séc. V, atribuído ao Papa Celestino I, combate especialmente o que se chamou de semipelagianismo, ou seja, um pelagianismo mitigado, segundo o qual o primeiro movimento na direção da fé seria do livre arbítrio, vindo então Deus com a graça interior em auxílio da liberdade, levando-a à plena conversão. Ninguém pode pelas próprias forças chegar à fé e nem conservá-la.

A fé é dom de Deus àquele que o busca de todo o coração. Essa busca mesma é também graça. Retomemos a afirmação do Concílio: “Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento, e dá ‘a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade’. Para que a compreensão da revelação seja sempre mais profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé mediante os seus dons” (n. 5).

A conclusão é óbvia: sem oração humilde e perseverante não se chega à fé e nem se pode crescer na sua vivência. Evangelizar sem dobrar os joelhos diante de Deus, na consciência de que o Reino é dele, é trabalhar em vão. Por isso o Ano da Fé deverá ser antes de tudo um ano a ser vivido em clima e em atitude de profunda oração (cf. I Tim 2,1-8).


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